O juízo divino é feito sempre em nome da verdade e da equidade. Na ótica de Deus, o homem não é somente mal, mas também um transgressor e um criminoso (Rm 3:23; 5:6, 8, 10; Cl 1:21; Tt 3:3). Sendo ímpio, como Deus pode justificar-nos? Se fossemos declarar inocente um culpado, nosso ato seria uma afronta tanto a Deus como aos homens. No entanto, isso é o que Deus faz. A doutrina cristã prega a justificação pela fé.
A palavra “justificar” é um termo judicial que significa absolver, declarar justo ou pronunciar sentença de aceitação. Podemos ilustrar na Teologia como procedem as relações legais: o réu está perante Deus, o justo Juiz; mas ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição. A justificação pode ser definida como ato de Deus pelo qual Ele declara justo aquele que crê em Cristo, e não é pelas obras ou merecimento próprio. O âmago do Evangelho encontra–se na verdade de que a justificação tem sua origem na livre graça de Deus (Rm 3:24) e sua provisão no sangue que Cristo derramou na cruz (Rm 5:19).O homem é justificado e passa a ser tratado como justo em suas relações com Deus.
A justificação muda a nossa posição, traz consigo a imputação da retidão. Assim como a pena pelo pecado fora “debitada em nossa conta”, a retidão de Cristo, no ato da justificação, é creditada em nossa conta (Fp 3:9). A epístola aos Romanos trata desse tema mais que qualquer outro livro da Bíblia, ainda que a doutrina possa ser também encontrada em outras porções do Novo Testamento (At 13:39; 1Co 6:11; Gl 2:16,17; 3:11), e também no Antigo Testamento (Sl 32:1; Is 43:25; 44:22; Jr 31:34). No capítulo quatro da epístola aos Romanos, Paulo trata exclusivamente a vida do patriarca Abraão, que a justificação dele não se deu em decorrência das obras, mas da fé.
A compreensão sobre a doutrina da justificação atravessou um longo período de distorção na Idade Média. A Igreja Cristã estava completamente fora dos padrões divinos, ensinando que a justificação inclui necessariamente as obras. Naquela época confundiam justificação com regeneração e com santificação. O monge agostiniano Martinho Lutero, inconformado com as distorções doutrinárias acerca da salvação, foi convencido pelas Escrituras de que a justificação se dá pela fé. Devido às considerações acerca da justificação, teve inicio à Reforma Protestante no século XVI. João Calvino defendeu o mesmo que o Lutero, referindo–se à justificação como a essência da religião. Jacó Armínio seguiu essa visão, ao definir a fé justificativa como aquela pela qual os homens crêem em Jesus Cristo como Salvador daqueles, universalmente aos que crêem.
E John Wesley, qual era a sua visão sobre o assunto?
Muitos acusam Wesley porque não adotou e nem ensinou plena a doutrina protestante da justificação pela graça por intermédio da fé. Isso é um equivoco!
Em seu sermão Salvação pela Fé, Wesley destaca que a fé por meio da qual recebemos a salvação é “fé em Cristo”. Ele distinguiu a fé justificadora, que é diferente da fé de um demônio. Enquanto na primeira desfrutamos a benção da salvação, n o segundo tipo de fé temos simplesmente uma crença racional.
John Wesley seguiu a visão reformada da justificação forense. Para ele o conceito da Bíblia sobre justificação é absolvição, o perdão de pecados. A justificação é a reconciliação com Deus pela graça Dele mediante a fé. Mas rompeu com a visão reformada dos efeitos da justificação no sentido da santificação. Ele não concordava com a frase de Lutero de que somos “simultaneamente justos e pecadores”. Em seu sermão A Justificação Pela Fé, Wesley chega a dizer que justificação se dá apenas sobre os pecados do passado.
O teólogo Kenneth Collis comenta que John Wesley não concordava com a visão de Lutero sobre a justificação da fé, porque talvez Wesley temesse que a interpretação caminhasse para o antinomianismo – que significa que nenhuma lei moral é de nenhum uso ou obrigação para o evangelho. Os teólogos H. Ray Dunning e Collis corroboram com essa atitude de Wesley, principalmente sobre o comentário de Lutero acerca da epístola aos Gálatas. Provavelmente a indagação de Wesley foi acerca da visão reformada da santificação. Henry Clarence Thiessen comenta que podemos comemorar com a Reforma Protestante acerca da doutrina da Justificação pela Fé, mas ficamos desapontados com doutrina da Santidade. O avivamento de Wesley é que enraizou o tema Santidade.
John Wesley era alguém que tinha uma grande preocupação prática na sua Teologia. A prática de Wesley é claramente uma forma viável de fazer teologia em sua orientação da missão da Igreja, em seu cuidado em relação à realização da verdade escritural e em seu serviço ao pobre. Desse modo, sua soteriologia tinha a tendência de enfatizar mais o “fomos salvos para as boas obras do que o fomos salvos pela graça”. Isso não significa que Wesley não valorizasse a mensagem da graça salvadora, pelo contrario, ele tinha uma visão pessimista da natureza pecaminosa da humanidade, e ao mesmo tempo John Wesley era otimista sobre o poder da Graça de Deus.
Alunos abençoados do Núcleo 005. Nós da FAPEG não temos palavras
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